Ela apanhou boleia da vida de alguém. Estava exausta. Contou-lhe onde sonhava ir, onde gostava de ser feliz e deixou-se adormecer no banco do passageiro. Acordou passados anos e não sabia onde estava. Da exaustão à confusão.
- Não me deixaste onde te pedi, mas não me lembro sequer de termos passado por lá... Passámos por lá?
- Não. Mas ainda vamos a tempo. Posso voltar atrás...
- É melhor não.
- Vamos. Tu querias muito.
-Não estás a ouvir eles a dizerem na rádio que a estrada de regresso está em obras?
- Conheço um sítio mais à frente, vais gostar. Vai dar quase ao mesmo.
-Pára o carro.
-Estás a sentir-te mal?
-Não. Estou bem. Só quero sair aqui. Deixa-me aqui.
Tinha de seguir em frente. Ir em frente era caminhar no lugar oposto ao sonho.
Mesmo assim, ela tinha a certeza que lá chegaria.
Perguntavam-lhe:
- Como é que podes chegar a um lugar se caminhas na sua direcção oposta?
Ela respondia com um sorriso bobo...
- Porque afinal de contas, a Terra é redonda, não é?
Ofereceram-lhe tantas boleias pelo caminho. Aceitaria uma delas na condição de trocarem de lugar de vez em quando.
Ora conduzes tu, ora conduzo eu.
Houve finalmente alguém que demorou a pensar na proposta...
- Tu não tens cara de quem conduz bem!
- Ainda bem! Assim nenhum de nós adormece.
Ele confiou e atirou-lhe as chaves.


Sem comentários
Enviar um comentário